Diga isto para um atleta de elite aposentado e ele irá mostrar a quantidade de lesões que teve, possíveis sequelas, cicatrizes cirúrgicas, enfim, uma longa lista. Veja, por exemplo, a Daiane dos Santos, a ginasta olímpica deve ter feito algumas cirurgias nos joelhos para raspar aquele “farelo de corpos livre de cartilagem”.
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Obviamente isto não é regra, mas muitos atletas profissionais, e até recreacionais, apresentam uma série de lesões no decorrer da carreira, entre elas, degeneração de cartilagens, que podem ter sido cometidas por excessos, técnica inapropriada, equipamento errado, etc. A lista é grande.
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Uma das articulações mais acometidas, a do joelho, pode sofrer com as lesões traumáticas, muitas vezes inerentes à própria atividade. Por exemplo, um jogador levando um “calço” pelo lado e vindo a sofrer da famosa tríade terrível, com ruptura do ligamento cruzado, menisco e outras estruturas. Mesmo operado e reabilitado com sucesso, seu joelho nunca mais lhe dará a mesma performance – ou terá vida útil menor. Mas não é incomum aquele corredor recreativo que simplesmente apresenta artrose no joelho, sem ter tido qualquer trauma. Ou aquele marombeiro que mal consegue levantar da cadeira, pois nunca pensou em proteger sua coluna.
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As causas das degenerações atraumáticas (onde não houve uma pancada, entorse ou outro fator causador) vão desde inadequação do biotipo do indivíduo para o esporte (como um cara com o físico do Arnold Schwarzenegger que resolve correr maratonas), até falta de treinamento e de adequação biomecânica. Por exemplo, em função do quadril mais largo, as mulheres podem ter o ângulo Q aumentado (o ângulo da articulação do joelho visto de frente), forçando o joelho. Jogadoras de vôlei com esta condição, têm maior risco de entorse do joelho nos saltos, pois caem com os pés abertos e os joelhos juntos, situação que pode ser minimizada com treinamento específico.
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Nadadores que treinam horas por dia fazem centenas de rotações no ombro. Tenistas fazem os mais diversos movimentos. Se não houver equilíbrio entre os treinamentos, de prevenção de lesões, de técnica, e assim por diante, a conta vai ficando gorda.
Algumas dicas que podem ajudar:
– Antes de qualquer atividade, lembre-se de aquecer, pois isto aumenta a lubrificação das articulações.
– Todo esporte requer uma base de treinamento aeróbio e resistido, de fortalecimento e proteção das estruturas.
– Não podemos mudar nossa carga genética e certas pessoas tem colágeno de pior qualidade, com propensão à artrose. Procure saber o esporte ou exercício mais adequado. Discuta com seu médico a condroproteção com suplementos, se for o caso.
– O excesso de peso sobrecarrega as articulações da coluna, quadril, joelho e tornozelos. Fique de olho no seu peso e procure diminuir o impacto. Se a perda de peso for impossível, prefira atividades na água.
– Após as partidas de tênis, futebol, corridas, etc: Não esqueça de desaquecer e de alongar.
– Muitas vezes o equipamento de má qualidade ou envelhecido é o problema. Por exemplo, pares de tênis de corrida não devem ser usados em dias consecutivos – e têm vida útil. Raquetes de tênis muito rígidas e pesadas propiciam mais lesões. Lembre-se: o equipamento vale menos que sua saúde!
– Nas trilhas e esportes de aventura, sacolas back-pack de má qualidade e com muito peso comprimem a articulação do ombro e entortam a coluna. Evite carregar o que não precisa e use sacolas de qualidade, com acolchoamento no ombro e ajustes também na cintura. As botas ou calçados especiais precisam proteger os tornozelos, evitando entorses em terrenos irregulares.
– Alguns esportes ou posições requerem equipamento de proteção especial. Por exemplo, goleiros que vivem se estatelando de lado no chão, deveriam ter suas proteções nas áreas de maior contato.
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Por fim, tenha orientação profissional. Na corrida, particularmente, onde qualquer um compra um par de tênis e sai por aí, há uma tremenda quantidade de lesões, equipamento errado, erro técnico e até por escolha do ambiente errado.
Esporte e exercícios orientados são bastante saudáveis, mantendo nossa saúde cardiovascular, prevenindo a obesidade e a síndrome metabólica, (uma condição onde há aumento da glicose e gorduras no sangue, além da perigosa gordura visceral), mas precisam ser dosados, pois a linha para o excesso é tênue.
Boa atividade, com preparação adequada e sem excessos. Assim você já dará um grande passo na prevenção de lesões articulares.
Por Gabriel Ganme – Medicina Esportiva, Mergulho e Expedições.
–Sobre Dr. Gabriel Ganme: “Médico desde 1984, Dr. Gabriel Ganme foi pioneiro no Brasil em diversas atividades relacionadas a medicina e ao mergulho. Liderou expedições de mergulho com grandes tubarões nos lugares mais inóspitos do planeta por 30 anos e de esqui na neve e snowboard por uma década. Nas viagens se viu socorrendo os mais variados incidentes e acidentes – na maioria dos casos por despreparo físico, falta de conhecimento técnico ou excesso de confiança. Vendo a demanda do mercado e a desinformação generalizada, investiu na medicina esportiva. Foi o primeiro instrutor de primeiros-socorros médicos da PADI no Brasil e ajudou a montar o primeiro curso de Medicina do Mergulho da DAN no Brasil, além de cursos relacionados a “emergências no mergulho”, sendo médico voluntário da organização até hoje. É também especialista em Medicina do Mergulho e de Expedições e membro da Undersea & Hyperbaric Medical Society e da Wilderness and Expedition Medical Society, vivendo e praticando aquilo que prega.”